Narrativa: Se Portugal aprovasse o PECIV não haveria nenhum resgate. Verdade:
Portugal já está ligado à máquina há mais de 1 ano (O BCE todos os dias salva a
banca nacional de ter que fechar as portas dando-lhe liquidez e compra
obrigações Portuguesas que mais ninguém quer - senão já teriamos taxas de juro
nos 20% ou mais). Ora esta situação não se podia continuar a arrastar, como é
óbvio. Portugal tem que fazer o rollover de muitos milhares de milhões em dívida
já daqui a umas semanas só para poder pagar salários! Sócrates sabe
perfeitamente que isso é impossível e que estávamos no fim da corda. O resto é
calculismo político e teatro. Como sempre fez.
Sócrates estava a defender Portugal e com ele não
entrava cá o FMI. Verdade: Portugal é que tem de se defender deste
criminoso louco que levou o país para a ruína (há muito antecipada como todos
sabem). A diabolização do FMI é mais uma táctica dos spin doctors de Sócrates. O
FMI fará sempre parte de qualquer resgate, seja o do mecanismo do EFSF (que é o
que está em vigor e foi usado pela Irlanda e pela Grécia), seja o do ESM (que
está ainda em discussão entre os 27 e não se sabe quando, nem se, nem como irá
ser aprovado).
Narrativa: Estava tudo a correr tão bem e Portugal estava fora
de perigo mas vieram estes "irresponsáveis" estragar tudo. Verdade:
Perguntem aos contabilistas do BCE e da Comissão que cá estiveram a ver as
contas quanto é que é o real buraco nas contas do Estado e vão cair para o lado
(a seu tempo isto tudo se saberá). Alguém sinceramente fica surpreendido por
descobrir que as finanças públicas estão todas marteladas e que os papéis que os
socráticos enviam para Bruxelas para mostrar que são bons alunos não têm
credibilidade nenhuma? E acham que lá em Bruxelas são todos parvos e não começam
a desconfiar de tanto óasis em Portugal? Recordo que uma das razões pela qual a
Grécia não contou com muita solidariedade alemã foi por ter martelado as contas
sistematicamente, minando toda a confiança. Acham que a Goldman Sachs só fez
swaps contabilísticos com Atenas? E todos sabemos que o engº relativo é um tipo
rigoroso, estudioso e duma ética e honestidade à prova de bala,
certo?
Narrativa: Os mercados castigaram Portugal devido à crise
política desencadeada pela oposição. Agora, com muita pena do incansável
patriota Sócrates, vem aí o resgate que seria desnecessário. Verdade: É
óbvio que os mercados não gostaram de ver o PEC chumbado (e que não tinha que
ser votado, muito menos agora, mas isso leva-nos a outro ponto), mas o que eles
querem saber é se a oposição vai ou não cumprir as metas acordadas à socapa por
Sócrates em Bruxelas (deliberadamente feito como se fosse uma operação secreta
porque esse aspecto era peça essencial da sua encenação). E já todos cá dentro e
lá fora sabem que o PSD e CDS vão viabilizar as medidas de austeridade e muito
mais. É impressionante como a máquina do governo conseguiu passar a mensagem lá
para fora que a oposição não aceitava mais austeridade. Essa desinformação
deliberada é que prejudica o país lá fora porque cria inquietação artificial
sobre as metas da austeridade. Mesmo assim os mercados não tiveram nenhuma
reacção intempestiva porque o que os preocupa é apenas as metas. Mais nada. O
resto é folclore para consumo interno. E, tal como a queda do governo e o
resgate iminente não foram surpresa para mim, também não o foram para os
mercados, que já contavam com isto há muito (basta ver um gráfico dos CDS sobre
Portugal nos últimos 2 anos, e especialmente nos últimos meses). Porque é que os
media não dizem que a bolsa lisboeta subiu mais de 1% no dia a seguir à queda?
Simples, porque não convém para a narrativa que querem vender ao nosso povo
facilmente manipulável (julgam eles depois de 6 anos a fazê-lo
impunemente).
Bom, há sempre mais pontos da
narrativa para desmascarar mas não sei se isto é útil para alguém ou se é já
óbvio para todos. E como é 5ª feira e estou a ficar irritado só a escrever sobre
este assunto termino por aqui. Se quiserem que eu vá escrevendo mais digam,
porque isto dá muito trabalho.
Henrique Medina Carreira."
Não é preciso ser um ´"As" em Gestão e Economia, para ver como andam confusos os nossos (des)Governantes! É só ler e reflectir!